segunda-feira, 30 de junho de 2025

O AMIGO PERGUNTA SE OS CÃES TAMBÉM TÊM SUPEREGO

 


“Você diz que o Superego se forma por adestramento na infância, que nós somos adestrados, assim como os cães, e que eles também têm Superego. Pode explicar?”

Francisco Daudt. Você já viu “cara de cachorro que quebrou panela”? Pois é, eles também sentem culpa, também têm medo de que não gostemos mais deles, também temem seus Superegos, como nós.

Como isso se deu? Há 15 mil anos, lobos começaram a se aproximar de acampamentos humanos em busca de comida. Foi assim que os cães se tornaram os primeiros animais domésticos: eles foram adestrados às nossas conveniências, em troca de amparo.

A partir daí começou uma seleção artificial em que os mais dóceis eram mais amparados, e os mais rebeldes eram eliminados. Mais tarde a seleção artificial dos cães atendeu a conveniências diferentes, e nosso poder sobre eles criou raças especializadas para nos prestar diferentes serviços, como os cães pastores, cães de companhia, cães de guarda etc.

A diferença é que eles não desenvolvem independência e autonomia, nem saem de casa para morar sozinhos: isso é um potencial que nós temos e eles não. Eles não conseguem prover seu próprio amparo, eles vão precisar sempre de nós. Serão sempre fiéis servidores.

“Ah, mas meu cão não é servidor, eu é que o sirvo; ele é um tirano!” Pois é: ele foi adestrado por você para ser assim. Seu desejo de amparo foi reverso, você tem o amparo dele, você o treinou para o domínio. Chama-se isso de “codependência”. O cão fica parecido com esses filhos mimados, “tiranos de aldeia” que só mandam em seu quintal, incapazes de ir para o mundo. Ele continua sob seu domínio, só que ao contrário.

Mas voltando ao adestramento para formação do Superego, o ponto chave é o medo do desamparo. Não é tanto pelo medo da chinelada; o principal medo é dono (ou o pai/mãe) virar-lhe a cara, se você o desagradar. É assim que entra o “bug no sistema”, um software automático que parece falar de dentro da nossa cabeça, parece nos dar choques quando contrariamos suas leis.

Ok, os cães não têm saída, o Superego deles vai ficar intacto para sempre; aliás eles nem precisam de saída, pois o contrato com eles é diferente.

O que queremos para nós e para nossos filhos é diferente: queremos mandar em nossas vidas. Não queremos ser prisioneiros, nem da submissão, nem da rebeldia. Precisamos, para isso, nos libertar de nosso adestramento: eliminar do Superego suas leis idiotas (“você tem que ser outra pessoa!”) e tomar para nós suas leis corretas (“você tem que ser honesto!”).

Eu “tenho que ser honesto?” Coisa nenhuma! Eu gosto de ser honesto. Vou ser honesto por gosto, não por medo da cadeia, nem por medo do Superego.







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