“Ter nojo é normal, ou é coisa de obsessivo?”
Francisco Daudt: “Os dois”, seria uma boa resposta. Explico: o nojo, ou repugnância, faz parte de nossos programas genéticos que servem à sobrevivência, junto com os medos de escuro, de estranhos, de altura, confinamento, répteis, grandes insetos voadores, e o principal deles: de desamparo.
Para se ter uma ideia de como isso não é aprendido, a primeira vez em que alguém tiver contato com carne podre, vomitará no ato. Ninguém lhe ensinou isso; a coisa veio com a máquina.
Essa é a parte normal. Vamos à outra: o nojo aprendido. Ele - como o original - estará voltado para as “impurezas”. Mas “impureza” é um conceito muito flexível, totalmente percentual… exceto para o Superego binário de quem tem perfil obsessivo: este só considera duas categorias, o puro e o impuro.
“Esse seu quarto está nojento” dá bem a dimensão relativa do conceito de repugnância: não há nada de podre nele, só está bagunçado, mas… para a extensão cruel daquele Superego, o bagunçado e impuro, logo, nojento.
As coisas se complicam mais quando o sexo está na questão. A atividades sexual envolve (potencialmente) intimidades com saliva, genitais, outras partes do corpo igualmente consideradas impuras. O Superego pode bem encrencar com elas.
Nessa hora, entram em ação potenciais diluidores do Superego: o álcool e o tesão. O tesão muda as relações de custo-benefício habituais, fazendo com que os nojos obsessivos desapareçam… pelo menos enquanto o tesão durar.
Nossa relação com o Superego é tal, que até uma face transgressora, um “dane-se” do nojo pode entrar em pauta como meio de excitação, como é o caso de envolver fezes e urina nos jogos eróticos: “ah, é nojento, Superego? Então vê só!”
De modo que, voltando à sua pergunta, o nojo tem sua face protetiva da saúde, mas tem um potencial neurótico atrapalhador de nossa vida. Nessa hora, entra o critério que determina se algo é sintomático ou não: o dano causado. Se o nojo te impede de ter vida sexual, bem… ele é sintomático.
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