quinta-feira, 8 de junho de 2023

QUER EXPERIMENTAR UM TESTE DE NARCISISMO?

 



Inventei esse teste, como uma forma experimental de avaliação. Ele não é nenhum produto final e acabado; nada disso, críticas e sugestões serão bem-vindas.

Avaliação quantitativa de narcisismo genético:

As perguntas com (D) devem ser contadas diretamente de zero a dez; as perguntas com (Z) devem ser contadas com o que falta para dez (p.ex., se a resposta for 1, a contagem deve ser 9).

Critérios: “um pouco” = de zero a três.
“mais ou menos” = de quatro a seis.
“muito” = de sete a dez.

1. Quantas pessoas são afetivamente importantes em sua vida, no presente? (Z)

2. Quão importante elas são? (Z)

3. E no passado? (Z)

4. Você pensa nelas quando está sozinho? (Z)

5. Você se preocupa com elas? (Z)

6. Você sente saudades de pessoas? (Z)

7. Você as conhece bem, sabe do que elas gostam e o que pensam? (Z)

8. Se interessa, quando elas falam sobre suas vidas e delas mesmas? (Z)

9. Você sofre quando as vê sofrendo? (Z)

10. Você tem vontade de ajudá-las, quando estão sofrendo? (Z)

11. Você sente ciúmes se elas dão atenção a mais alguém? (D)

12. Com que frequência você sente inveja? (D)

13. Sente inveja de pessoas próximas? (D)

14. Rompimentos de relações são frequentes em sua vida? (D)

15. Com que facilidade você se descarta dessas pessoas, se elas te contrariam? (D)

16. Você cita famosos conhecidos seus? (D)

17. Você acha que os ostenta para os outros? (D)

18. Com que frequência você recebe elogios de seus próximos? (D)

19. Você acha que precisa de plateias? (D)

20. Você acha que precisa de adoradores, fãs próximos? (D)

21. Você admite erros com facilidade? (Z)

22. Culpa os outros pelo que lhe aconteceu de ruim? (D)

23. Você tolera críticas? (Z)

24. Como você avalia intimamente sua autoestima? (Z)

25. Tem dúvidas do seu valor? (D)

26. Você acha que seu valor precisa ser reafirmado com frequência? (D)

27. Você é seu assunto principal? (D)

28. Você tende a comparar suas qualidades (beleza, inteligência etc.) com a dos outros? (D)

29. Você fala de sua admiração pelos outros? Você os elogia para terceiros? (Z)

30. Você preencheu este questionário com a preocupação de “tirar boa nota”? (D)

Contagem abaixo de 150: não narcisista.
Entre 150 e 200: narcisismo moderado.
Acima de 200: narcisismo intenso.

Os narcisistas que se reconhecem como tal têm enorme vantagem, pois a empatia (sua principal deficiência) pode ser aprendida, como se aprende uma língua estrangeira.



quarta-feira, 31 de maio de 2023

A COMÉDIA E O SUPEREGO

 


O cerne do que nos faz explodir de risos é o debochar do Superego. Nós todos temos uma raiva reprimida dessas leis tirânicas (e frequentemente idiotas) que formam o senso comum e que absorvemos em nossos Superegos, pela chantagem: “seja assim, ou você vai ser cancelado/desamparado”.

Mas há níveis em que o deboche do Superego nos faz rir, e níveis em que a gente diz, “ah, aí também não!”, e passamos a criticar a comédia. 

Novamente, quem decide esse limiar é também o senso comum, que muda a cada tempo. Por exemplo, o auge das demonstrações de superioridade moral e de níveis de se sentir ofendido por tudo parece estar passando, saindo de moda, mas ainda assim…

Um desses níveis parece ter sido transposto por um comediante de stand-up, que vinha usando o senso comum do politicamente correto para transgredi-lo sistematicamente em tudo que podia. 

Aí o Superego veio com tudo: “Tá vendo no que dá esse excesso de liberdade!?” No entanto, nossa liberdade e nosso direito de mandar na própria vida são fruto de uma crescente negociação/transgressão com as leis do Superego. Com direito a avanços e recuos… e mudança das leis.

Se não fosse assim, ninguém conquistaria uma vida sexual não transgressora…



domingo, 21 de maio de 2023

DEUSES E DEMÔNIOS - O AMIGO PERGUNTA

 



De Gilson Gusmão: “É possível rezar a Deus e a Lúcifer? Ou ambos são a expressão do mais profundo âmago da pessoa humana?”

Francisco Daudt: A devoção aos deuses é mais clara e declarada que aquela dirigida aos demônios. E veja que não estou tratando de fés particulares, e sim dos mecanismos da mente humana.

Como já disse, as ficções religiosas partilhadas trazem consolo e amparo, e podem fazer parte da variedade de saúdes mentais. Um psicanalista que se propuser a ditar como é a saúde mental “certa” estará pautado pelo Superego, e essa psicanálise não me serve.

Mas… (e em termos humanos sempre há um “mas”) o desejo de poder e proeminência que a espécie tem - são nossos chamarizes sexuais - é bem capaz de criar tanto cultos demoníacos, quanto religiões que clamam pela “morte aos infiéis”: é nossa tendência inata à tirania.

Há duas ficções partilhadas que muito aprecio, e a favor das quais argumento: o indivíduo e a democracia. Esta última tem só 2.400 anos. O indivíduo é mais jovem, é pós-iluminista, só tem 500 anos.

Mas para mim, apesar de serem tão “antinaturais” quanto o antibiótico (esse tem o agravante de ser “contra a vida”… das bactérias), indivíduo e democracia formam um par indissolúvel: ele tem direito de voz e voto. Nas tiranias, as massas devem ser avassaladas e assim caladas.

Então, deuses e demônios podem morar “no mais profundo âmago” do sapiens; podem ser “seus institutos mais primitivos”, como a tirania o é.

Mas eles não são a “nossa verdade”, nem “aquilo que está por trás” de todos. São apenas uma faceta de nossa complexidade, e que, assim como aprendemos a falar, eles podem ser trazidos à consciência, para participar com suas vozes do parlamento mental que proponho entre Ego, Id e Superego.

“Participar”, e não “imperar”.




RITA LEE E O XIXI - O AMIGO PERGUNTA

 



Amigo do Facebook: "Eu me dei conta, diante dessa perda, que todas as vezes que vou ao banheiro, só consigo fazer xixi cantarolando aquele verso da música da Rita Lee (“eu fiz / xixi / fricote”). Por que isso?”

Francisco Daudt: O controle dos esfíncteres que retêm fezes e urina recebe uma influência muito grande do nosso Superego, sobretudo em obsessivos: há sempre uma parcela de “dever ser regulado e limpo, fazer as coisas na hora certa e no local adequado”. Superego de obsessivo e controles formam uma parceria indissolúvel.

De modo que, não é incomum haver rituais de desligamento dos controles para que os esfíncteres relaxem. Rituais para ambas as funções. Mulheres sofrem mais do que homens, pois suas facilidades não são tantas, o que impede que usem qualquer lugar/hora para seu alívio. É comum que sofram de prisão de ventre.

O que você usa é um pequeno ritual para distrair o Superego e relaxar o controle.



DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 5º capítulo - continuação: Neuroses

 


DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 5º capítulo - continuação

NEUROSES

As Neuroses são resultado de um tipo particular de mecanismo de defesa contra a angústia: a repressão (em alemão, “verdrängung”, às vezes traduzido como “recalque”).

A tradução mais correta do “verdrängung” usado por Freud é “desalojamento”, pois o mecanismo afasta da consciência o sentimento proibido pelo Superego (raiva ou tesão) e coloca outra coisa não reconhecível - mas de algum modo relacionada - em seu lugar. Exemplo: o tesão visual proibido some e em seu lugar aparece uma cegueira psicológica; a cegueira é mais aceitável para o Superego que aquele tesão.

Há dois grupos de neurose: as que resultam da repressão da raiva (obsessiva e fóbica) e as da repressão do impulso sexual (histeria).

(Na foto, Charcot em uma de suas demonstrações públicas da histeria).

(em breve os próximos capítulos)



DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 5º capítulo - Doenças psíquicas: neuroses, vícios, psicoses, depressão e síndromes/transtornos/distúrbios

 


DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 5º capítulo

Doenças psíquicas: neuroses, vícios, psicoses, depressão e síndromes/transtornos/distúrbios.

As doenças são mecanismos de defesa contra a angústia de desamparo mais estruturados: contêm sintomas.

Neuroses:

Os sintomas neuróticos são sempre…

a) esquisitos: p.ex. medo irracional de baratas (fobias); paralisias e anestesias (histeria); atos e rituais repetitivos “inúteis” (obsessivas).

b) involuntários (o que os diferencia dos sintomas dos vícios, pois que estes parecem ser resultado de vontade consciente).

c) monotemáticos (sempre baratas, sempre os mesmos rituais).

d) compulsivos (imunes à vontade/controle de seus portadores).

e) alugantes de grande espaço mental (diários, atrapalham a vida).

f) desprazerosos (eles têm que ser feitos, mas não dão nenhum prazer, ao contrário dos sintomas de vícios).

(em breve os próximos capítulos)


DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 4º capítulo - Angústia, e os mecanismos de defesa contra ela: Inibição e Sintoma

 


DIAGNÓSTICOS EM PSICANÁLISE 4º capítulo

Angústia, e os mecanismos de defesa contra ela: Inibição e Sintoma

Angústia:
“Aperto”, é o significado da palavra de origem. “Angst” significa “medo”, em alemão. É medo que dá um aperto no peito ou na boca do estômago.

Há vários medos naturais (escuridão, altura, confinamento, grandes felinos, répteis, grandes insetos voadores etc.), mas a angústia vem principalmente do maior medo da humanidade: o medo do desamparo.

Sua principal fonte é a imaginação: “fiz merda, vou ser abandonado, expulso, deserdado, desamado, preterido, difamado, demitido, cancelado, bloqueado, exilado, degredado, desprezado, difamado, segregado, escorraçado, desempregado, rejeitado, repudiado, abominado…”

Pela quantidade de verbos correlatos, pode-se ter a dimensão do terror que desamparo representa para nossa espécie. Um terror que vem da infância: não há outra espécie que tanto dependa de amparo como a nossa.

Há outra fonte de angústia não claramente relacionada com medo: a angústia de raiva impotente, uma das geradoras dos estados depressivos.

A presença da angústia dispara mecanismos que nos defendam dela, mesmo a altos custos - como os das doenças psíquicas. Algo como “é melhor ter a doença do que ter a angústia”.

Inibição:

A inibição é um mecanismo preventivo de defesa contra o medo do desamparo: evitar o seu risco.

Como funciona: num processo de trinta passos para alcançar um objetivo de seu desejo, algo de muito ruim é imaginado no passo 13, e por isso não se dá o passo 1.

É claro que, se você se imagina tendo que ir cumprir uma obrigação chata, e se imagina num ambiente hostil e entediante, e como resultado acaba não indo, isso não se chama inibição, chama-se sabedoria.

A inibição impede a realização de um desejo seu: “Ah, se eu for lá falar com ela, ela vai ver que eu não sou desejável e vai me rejeitar; melhor não ir…”. Eis um caso de inibição verdadeira.

O que não costuma ser verdadeiro é o horror imaginado do passo 13. Em geral, ele é o fruto do mau julgamento que o Superego faz:

a) do inibido: “indesejável”, “insuficiente”, “incapaz” etc.

b) do mundo externo: “não vou ser bem recebido”; “as exigências são muito altas”; “as pessoas são muita areia pro meu caminhãozinho”.

Sintoma:

É o mais custoso mecanismo de defesa contra a angústia. Um acontecimento psíquico compulsivo (mais forte do que nossa vontade, e alheio a ela), repetitivo, sempre da mesma forma, e que toma muito espaço em nossas vidas pelo seu grande aluguel mental.

É ele a principal manifestação das doenças psíquicas.

(em breve os próximos capítulos)