quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

SUPEREGO E INTELIGÊNCIA

 


Nossa inteligência é nossa capacidade de processar arquivos de memória que moram em nosso cérebro.

Quando o Superego é poderoso, ele restringe o acesso a esses arquivos: haverá arquivos que causam desconforto, que causam pudor, vergonha, medo, nojo, culpa, ridículo, enfim, todos as ameaças e angústias que moram no arsenal do Superego. Ele nos dará choques só de tentar acessar esses pensamentos e memórias.

Resulta que o Superego é um redutor de nossa inteligência, por ser um redutor de nosso acesso aos arquivos de memória. A inteligência depende do pensamento livre e despudorado. Quanto menos Superego, mais inteligência.

Isso não é surpresa, se tomarmos a metáfora da tirania como base: nenhum tirano quer súditos inteligentes.

Os tiranos não querem súditos pensando por si próprios, eles querem súditos dependentes e submissos às suas palavras sagradas inscritas em seus comunicados oficiais. Se alguém questioná-las, já sabe…




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terça-feira, 19 de novembro de 2024

COMO DISTRAIR O SUPEREGO

 


O Superego do Dumbo lhe dizia que ele era incapaz, que ele não tinha qualidades suficientes para voar (habilidade que ele descobriu quando estava de porre alucinógeno).

Uma vez sóbrio, Dumbo sofria de inibição: seu Superego o fazia imaginar se estatelando no chão caso tentasse alçar voos. O mesmo que faz conosco.

Pois o ratinho lhe deu um truque: a “magic feather”. “Segura nessa peninha e ela vai te fazer voar!” O resto é história: depois de algum tempo, Dumbo conquistou terreno sobre seu Superego e pôde dispensar a pena mágica.

Ora, então o Superego dele estava dizendo uma besteira e ele acreditando nela. O uso da pena deu um drible nele, mas não questionou as besteiras que ele diz. Ele continuou ali dentro, poderoso, esperando a próxima ocasião de fazer valer suas besteiras.

Tenho a ambição de não ter que ficar driblando meu Superego. Quero ouvir dele as besteiras para poder questioná-las. Quero ele debatendo comigo!



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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

SOFRIMENTOS DO OBSESSIVO

 



Quem nasce com perfil obsessivo de funcionamento mental pode ser detectado desde cedo: são crianças que lidam com seus brinquedos de maneira arrumadinha, por exemplo.

A obsessividade traz muitas vantagens para quem a tem: as coisas são feitas de maneira caprichada, e são entregues a tempo. Não há desleixo. Por outro lado, a possibilidade de sofrimentos é grande.

Um obsessivo não deixa passar um quadro torto na parede, inclusive na casa dos outros ele precisa se conter para não acertá-los… e muitas vezes não consegue.

Um obsessivo tem horror de desperdício, ele segue a compaixão pelos famélicos da África e raspa o prato. Sua geladeira está cheia de tupperwares com restos de comida para… bem, para não desperdiçar.

Um obsessivo sofre com a “economia de palito”: seu tubo de pasta de dentes só vai para o lixo depois de ter sido aplainado até virar uma folha de papel (atenção: aplainado; nunca estrangulado). O final de um sabonete será colado ao novo (ou posto num pote para… bem, para não desperdiçar).

A pontualidade do obsessivo é outro tormento: “chegar pontualmente é chegar cinco minutos antes”, diz seu lema. Qualquer atraso é um insulto a quem se deixou esperando.

Outra agonia é a ansiedade: ela impõe que tudo seja antecipado e controlado para sair sem erro. Uma viagem de carro é mentalizada a cada quilômetro antes mesmo de se sair de casa.

Controle e pureza, são os dois eixos sobre os quais a obsessividade roda: pureza corporal e pureza de espírito. O pensamento binário “Cecilia Meireles” (“ou isso, ou aquilo”) do obsessivo não conhece “mais ou menos”: ou limpo, ou imundo; ou ama, ou odeia. Um obsessivo que defendia o ensaboamento da cabeça aos pés ficou atormentado quando eu perguntei se ele lavava completamente suas costas. No dia seguinte comprou um escovão de cabo longo.

Ou seja, quer conhecer um Superego 12 anos escocês legítimo? Esse é o Superego do obsessivo…





MAU HUMOR

 



A cara fechada, a expressão de poucos amigos, de “nem vem”, os grunhidos baixos e outras manifestações parecidas fazem o conjunto do que se chama de mau humor.

O mau humor emite sinais variados, o mais claro deles é de que há um drama em curso: ou a pessoa está sob uma situação dramática, ou ela mesma é quem produz o drama. No primeiro caso, ela está sofrendo; no segundo, ela está no controle, fazendo os outros sofrerem (mas também sofrendo do drama, pois ela o leva a sério).

Em termos psicanalíticos, o mau humor é sinal de que o Superego está imperando: ou o mal humorado está sob seu massacre, ou ele está assumindo o papel de Superego para massacrar os outros. Ou seja, sim, mau humor e mau sinal, é sinal de provável doença psíquica, pois a pessoa que dele sofre vai buscar algum alívio, dentro da equação “drama leva à dureza; o duro pede um Dreher”.

Tomando o Dreher como alívio vicioso (que pode ser alcoólico, como o próprio Dreher), abrem-se algumas possibilidades:

1. a pessoa está sofrendo de drama externo ocasional? O mau humor é novo e seu alívio será tão pontual quanto seu mau humor, logo, não há doença.

2. a pessoa está fazendo seu drama e já incorporou o mau humor como estilo próprio? As chances desse alívio vir de uma doença aumentam muito.

3. a doença mais comum ligada ao mau humor é o vício de sadomasoquismo não sexual, em que a pessoa encarna seu Superego para fazer sofrer os outros, para repassar seu sofrimento.

4. outro vício ligado ao mau humor é o sadomasoquismo do tipo fodão-merda, em que o mau humor é mais uma exibição de sua “temida superioridade fodona”, que chama a todos os atingidos de merdas.

5. seu mau humor vem dela mesma, mas não é costumeiro, não está presente há muito tempo? Há chances de haver depressão, tendo a irritabilidade como sintoma principal, o que é um dos principais problemas para o diagnóstico de depressão, pois a pessoa não parece derrubada, e sim ativamente irritada com tudo.

6. Há um curioso mau humor matinal do mimado, que está furioso de sair do sono e entrar no mundo que lhe cobra coisas, faz disso um tremendo drama… que pede Drehers variados, o mais comum entre os jovens será a maconha.

Enfim: em psicanálise, o mau humor é mau sinal a ser investigado, não pode passar como “ele é assim mesmo, deixa pra lá”. 





quarta-feira, 18 de setembro de 2024

ESTRANHOS APEGOS À DOENÇA: RESISTÊNCIAS AO TRATAMENTO

 


Resistência pelo Benefício secundário do sintoma (ou “ganho secundário do sintoma”):
O sintoma pode trazer algum tipo de vantagem para o paciente, como ganhar atenção, ou ter desculpa para evitar responsabilidades, o que dificulta a sua eliminação.

Há sintomas viciosos de comportamento que podem estar entranhados até no ganha-pão do cliente, como vícios de domínio e submissão, ou sadomasoquismo fodão merda.

Outro ganho secundário, ou benefício secundário, é que o vício pode ser parte do amparo da pessoa, seu consolo, ou mesmo seu grupo afetivo social, e largar o vício pode ser equivalente a perder o amparo.

Um caso típico é o do casal que convive com maltrato, em que o vício sadomasoquista core solto, mas é o que eles conhecem, a alternativa estaria na separação… e na falta de alternativas de amparo.

O mesmo se passa com os companheiros de bar, ou com os cúmplices do uso de drogas: interromper o vício supõe perder o amparo que lhes foi possível arranjar até ali.

(Ilustração criada por IA pelo Bing)






quarta-feira, 28 de agosto de 2024

TRATAMENTO DOS VÍCIOS COMPORTAMENTAIS

 


Um ponto central na terapia dos vícios comportamentais é que neles é muito difícil a abstinência. Enquanto no vício de substâncias a abstinência é essencial, no comportamental a abstinência não só é difícil quanto também é preciso separar o que o vício contém do desejo autêntico da pessoa, ainda que mal gerenciado.

P.ex., o sadomasoquismo contém raiva mal administrada, desviada para a vingança ou para o vitimismo, mas a raiva precisa de administração legítima, para alcançar seu objetivo inicial, que é fazer justiça.

Então, podemos ver o caminho da cura desses vícios: perceber o desejo legítimo que eles contêm, aprender a gerenciar esse desejo para seus objetivos autênticos (aqueles que não causam dano e atendem à pessoa), e promover uma transição gradual de desinvestimento no vício e investimento no desejo legítimo.

Como em todos os vícios, é preciso que a vida bacana os substitua, que ela entre no lugar deles.



terça-feira, 20 de agosto de 2024

FORMAS DE TESÃO

 


Tesão é o mesmo que “tensão” que busca alívio; ainda que esse termo seja só aplicado ao desejo erótico. Todos os nossos desejos produzem tensão que busca alívio. 

Mas quando se trata de interações pessoais, há várias camadas de complexidade no tesão, desde a básica que se resolve com a masturbação, até a mais complexa, que envolve interação afetiva, intelectual e erótica.

Esses três “tesões”, essas três interações possíveis podem falar umas com as outras, podem se contagiar, se comunicar, de forma que uma admiração intelectual pode despertar desejo afetivo, a interação afetiva pode despertar desejo erótico. 

Ou seja, o tesão não é necessariamente estanque, confinado apenas a uma das ligações humanas possíveis. 

Como exemplo, a principal forma de tesão erótico dos homens é visual, e ele pode impulsionar os encontros afetivos, românticos. 

Como outro exemplo, o tesão erótico nas mulheres costuma começar pela admiração, e será despertado quando elas virem desejo erótico na outra pessoa. 

Ou seja: tesões, desejos, sejam eles eróticos, afetivos ou intelectuais, contêm um potencial de contágio entre eles.


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A FALÁCIA DA SUBLIMAÇÃO

 


Para o aluno do Santo Inácio que fui, o conceito de sublimação tinha muita importância: ela era o meio pelo qual os padres “redirecionariam” seus instintos sexuais tidos como “baixos”, para um propósito “sublime, de amor e dedicação ao próximo.”

A sublimação não seria um mecanismo de defesa; a sublimação parece ter sido concebida como um expediente idealizado do Superego de “remover instintos baixos por meio de um reinvestimento de sua energia em direção a um propósito sublime, superior”, portanto ela contém em si um julgamento de valor. 

A sublimação foi descartada por Freud justamente por isso: ela é mais uma peça de propaganda, das idealizações do Superego, que um mecanismo psíquico regular.

Aliás, o descarte de Freud foi literal: depois de escrever sobre sublimação, ele olhou o texto, olhou outra vez… e atirou-o na lareira.



O PEGADOR E A MULHER-MARAVILHA

 


É importante lembrar que nem todo uso de um personagem construído em que nos metemos remete ao falso-self. 

De algum modo, todos nós usamos personagens diferentes em ambientes diferentes, o que mais se adapta a aquele ambiente, como diversas faces de nossa personalidade, como o “sociável”, o “engraçado” etc. 
Há mesmo personagens construídos que servem à nossa sobrevivência, mecanismo de defesa diferente do falso-self: uma pessoa com infância muito sofrida pode construir em si uma espécie de super-herói a quem nada afeta. 

O problema é ela se acostumar a esse personagem, não saber nada de seus desejos e manter pela vida afora circunstâncias adversas em que o personagem continue a ser necessário. Isso poderia se estabelecer como um vício de domínio-submissão difícil de largar.

Outro personagem defensivo é o “pegador”, uma espécie de defesa contra as inibições sexuais em que a pessoa se vê com autoestima baixa para se fazer desejado, mas seu “personagem pegador” supostamente não sabe o que é isso. 

O problema é que a pessoa pode se tornar dependente desse personagem, novamente como num vício de domínio-submissão, continuar pela vida sem saber seus próprios desejos, e se ver impotente quando quiser uma relação mais pessoal.


sexta-feira, 26 de julho de 2024

O PRAZER DA SUBMISSÃO


Há quase 500 anos, Étienne de La Boétie escreveu um ensaio (“O Discurso da Servidão Voluntária”) em que estabelece uma semelhança inédita entre indivíduo e sociedade.

Ele descreve como o sentir-se amparado é capaz de despertar o prazer da submissão, da entrega, seja sexual, seja social, política ou religiosa.

Essa foi uma das minhas primeiras fontes para compreensão de nossa relação com o Superego: como a dinâmica de domínio-submissão que mora em nós, adestrada desde a infância sob o poder concentrado de nossos pais, pode nos levar ao jogo externo de domínio-submissão em graus variados.

Esses jogos vão desde a brincadeira amorosa na cama, até a adesão viciosa a tiranias políticas em que somos, ora passivos, ora ativos, submissos ao tirano e tiranos com os outros.

Tudo isso em troca do amparo de nossos pares. Acho especialmente fascinante como isso pode ser operado: desde maneira alegre e saudável (no playground da cama, por exemplo), até a maneira viciosa e cruel, nas diversas formas de sadomasoquismo, sexual, interpessoal e social.

Sempre em variações percentuais. Nunca no “tudo ou nada”.

(Na imagem: La Boétie, quando escreveu o “Discurso”… aos 18 anos!)



terça-feira, 23 de julho de 2024

GENÉTICA OU CULTURA?

 



Aguinaldo Silva, de quem a mãe de meus filhos foi coautora em “Fina Estampa”, conta em sua autobiografia que sofreu na infância por ter sido gay efeminado desde sempre, e só ter encontrado meninos como ele depois dos 13 anos.

Até então, sofreu bullying na escola e se julgava alguma aberração da natureza, pois nunca havia visto ninguém com quem se identificasse.

Isso me chamou especial atenção, pois tenho encontrado psicanalistas que creem na tábula rasa, na ideia de que nascemos como uma folha em branco em que a cultura/criação escreverá cada um de nossos traços.

Não quero me estender sobre tema tão óbvio, mas eu lhes pergunto, sobre a própria orientação sexual: qual o motivo de a incidência mundial de gays ser percentualmente idêntica em todos os cantos da Terra, mesmo entre povos nativos sem contato com outras culturas?

Mesmo entre os gays masculinos, os efeminados - percentual fixo também - o são desde pequenos: ninguém lhes ensinou os trejeitos, a escolha de brincar de bonecas e de casinha, a aversão aos esportes musculares, e outros traços femininos que muita gente ainda julga puramente culturais.

Steven Pinker, em seu livro “Tabula Rasa”, lista cerca de quinhentos comportamentos idênticos em todas as culturas , os chamados “Universais”, desde os básicos (busca de prazer, busca de justiça, busca de que as coisas façam sentido, medos inatos como desamparo, escuro, altura, cobras etc.) até outros mais elaborados, como capacidade de absorver linguagem, cuidar de filhos, cooperação etc.

Essa é a maior contribuição da Psicologia Evolucionista à psicanalise: como a natureza humana (traços herdados que nos fazem únicos) interage com nossa criação.

É justamente o atropelo de nossas características únicas herdadas que formará nosso Superego e causará mais tarde as doenças psíquicas. 








RACIONALIZAÇÃO

 


A racionalização é um jeito de driblar o Superego e fazer algo que ele condena, através de construir um raciocínio que faça a transgressão parecer lógica.

A racionalização é um mecanismo de defesa utilizado pelo indivíduo para justificar ou explicar comportamentos, pensamentos ou sentimentos de forma lógica e aceitável. Quando alguém recorre à racionalização, busca encontrar explicações plausíveis para suas ações ou pensamentos, mesmo que essas explicações não sejam verdadeiras ou não reflitam a realidade.

Mas é preciso distinguir a racionalização, como mecanismo de defesa, do uso da razão para questionar o Superego. Enquanto a racionalização busca driblar o Superego, o uso da razão pode questionar suas leis.

Um exemplo: “prostituição é crime e é errado” (diz o Superego); “ah, mas a pobre moça precisa do dinheiro pra comer” (diz a racionalização).

O uso da razão questionando o Superego pergunta: “onde está o crime?, onde está o erro? Quero que me explique, não quero aceitar sem entender.”

(Do texto de “A psicanálise do Superego” para uso do DrDaudtAI)


quarta-feira, 10 de julho de 2024

O AMIGO PERGUNTA - A PSICANÁLISE E O MÉTODO CIENTÍFICO

 


O AMIGO PERGUNTA 

“Você fala que a psicanálise pode se valer do método científico. Poderia me dar um exemplo?”

Francisco Daudt. O meu preferido é o conceito de angústia de castração, enunciado pelo Freud. A proposta do método científico é: feita a hipótese, exponha ela, da maneira mais transparente possível, à possibilidade de ser refutada, de ser criticada (Karl Popper). Nunca a aceite como fato verdadeiro, antes disso.

A pergunta simples é: alguém cortar o seu pênis já foi alguma questão para você? Para mim nunca foi, nem quando meu tio me ameacou disso, aos meus cinco anos. Nem pra mim, nem para nenhum outro homem que eu conheci.

Foi por isso que me dei conta de que alguma coisa mais realista precisava entrar como razão de nossas angústias. Pensei no desamparo.

Reformulo agora a pergunta: alguma vez na sua vida você se angustiou pensando que não iam mais gostar de você, que você ia ser abandonado, largado, cancelado, bloqueado, expulso, que iam te dar gelo, que você estava caminhando na direção da sifudência?

Pois é: a angústia de desamparo passou no teste…






terça-feira, 2 de julho de 2024

A MODA E O DRAMA

 



Estar na moda faz parte do arsenal de qualificações que prometem tornar alguém atraente, portanto é da natureza humana, como as penas do pavão são da natureza e do arsenal dele.

Fazer drama sempre chamou a atenção, pois situações dramáticas tocam nossos instintos de sobrevivência - pela ameaça e urgência que anunciam. Por isso, o drama sempre foi arma do Superego, sempre foi artifício de domínio, sempre foi emburrecedor, pois pede reação e impede a reflexão.

Portanto, há momentos na história em que o drama e a moda se sobrepõem, já que ambos nos são atraentes: se eu faço drama, estou no lugar do Superego, estou “acima de todos”. Se eu somo isso a estar na moda, “eu sou o máximo”!

Há poucos momentos na história em que essa soma de drama e moda se somaram de forma tão bizarra, e tão irracional, quanto na morte de Rodolfo Valentino: centenas de mulheres se suicidaram (!) por “não suportarem viver num mundo sem ele”. Elas se imolaram em nome de suas “grandezas de espírito”.

Moda e drama se somam hoje para exibir a superioridade moral dos ofendidos das causas identitárias, do politicamente correto, dos “suicidadores dos outros” (através do cancelamento e da censura).

Penas de pavão…





segunda-feira, 1 de julho de 2024

TRÊS SEGUNDOS QUE MUDARAM MINHA VIDA


O amigo pergunta

“Como você conseguiu se formar psicanalista sem ser através de uma instituição?”

Francisco Daudt: Por causa de três segundos de hesitação. Eu era médico clínico desde 1971 quando, em 1976 resolvi me tornar psicanalista. Procurei meu antigo analista (de 1969 a 74), Roberto Quilelli, para saber com ele como proceder para uma formação.

Ele havia se tornado analista didata (formador de novos analistas) da Sociedade Brasileira de Psicanálise, na época de orientação kleiniana (de Melanie Klein). Diante de minha vontade, entendendo que um candidato precisaria passar por uma “análise didática”, ele me perguntou: “Você retomaria a análise comigo?”

Foi o momento em que hesitei por três segundos… e respondi, “Mas claro que sim!” Tremendo golpe de sorte: ele leu minha hesitação, mais que minha resposta, e disse: “Ok, vou falar com o Walderedo para a gente achar um analista pra você”.

Se não fosse pela hesitação dos três segundos, se não fosse ele inteligente como era, eu provavelmente seria hoje um membro da SBP, com formação kleiniana. Um desastre que ia, pelo menos, atrasar em muito minha vida.

É que a análise com ele não tinha sido nada boa. Como qualquer kleiniano, ele usava o Superego como ferramenta de “cura”. Como eu lhe disse, depois de uns dois anos de análise: “Ah, entendi o processo da psicanálise. É igual ao da igreja católica. Lá, você se arrepende dos seus pecados e promete não pecar mais. Na psicanálise, você se arrepende de seus sintomas e promete nunca mais tê-los.”

O que eu não disse foi que, tanto na igreja quanto na psicanálise, esse processo de “cura” não funcionava. Eu continuei pecando e eu continuava com meus sintomas. Entrei com eles e saí, cinco anos depois (e muita grana depois), com eles. As intervenções dele eram raras e enigmáticas. Eu não falava nada, pois estava intimidado com aquela representação rediviva do meu Superego. 

Mas ele me ajudou muito a entender o tipo de psicanalista que eu… não queria ser. Fiquei com aversão a figuras suoeregoicas em geral, e na psicanálise em particular. Ele contribuiu muito para eu querer aprender sobre o Superego, e assim desenvolver a psicanálise que faço hoje.

O resto da história, encurtando, foi ele me mandar falar com o Waldredo Ismael de Oliveira, o super chefe da SBP, e ele me indicar o genro, Roberto Curi Hallal, para ser meu analista formador. Acontece que o genro não era daqui, tinha sido formado na Argentina pelo Angel Garma, um freudiano formado por Theodor Reik, que tinha sido formado por Karl Abraham, formado por sua vez por… Sigmund Freud em pessoa.

Foi assim que minha formação foi: fora de qualquer instituição; nem kleiniana, nem lacaniana (as duas opções de então, no Rio); totalmente freudiana (e eu, que não entendia nada do que Lacan escrevia, entendia tudo escrito por Freud). Foi assim que me tornei um analista em linha direta com Freud, uma “sexta geração”.

Ah, claro, minha segurança vinha também de eu ser médico, e médico tem um poder social ímpar, não se submete a ninguém.

Um somatório de várias sortes: eu ser médico; eu ter encontrado um analista freudiano não institucional; e… aqueles três segundos de hesitação, que foram bem compreendidos pelo Roberto Quilelli.

(Na imagem: Freud; Karl Abraham; Theodor Reik; Angel Garma e Roberto Curi).





quinta-feira, 27 de junho de 2024

O QUE É O DESEJO



Em termos gerais, o Desejo é o motor de nossa sobrevivência e da sobrevivência da espécie, sendo que nossa sobrevivência serve à sobrevivência da espécie, pela procriação.

O Desejo opera em nós através do desconforto em busca de conforto. Nascemos com três desejos básicos: de prazer; de justiça; de que as coisas façam sentido.

PRAZER: O desejo de prazer tem vários desconfortos – ou tensões – para nos mover em direção ao conforto: a fome, que busca o prazer da comida; a sede, busca o da bebida; o tesão, busca o do sexo; a dor, busca o alívio.

Pode parecer estranho chamar o desejo de desconforto, pois nós somos capazes de apreciar o desejo… se o desconforto for moderado, e se o conforto estiver acessível.

Por exemplo: a fome moderada chama-se “apetite”, e ele nos dá água na boca, por antecipação imaginada do prazer específico de uma comida gostosa. O mesmo se passa com a sede. O tesão sempre conta com a masturbação como alívio, mas ele pode bem se parecer com o apetite gostoso, caso o seu objeto esteja ao alcance. A dor pode ser gostosa como o apetite, e podemos até buscá-la, se o seu alívio estiver sob nosso controle (a sauna, o frio e o exercício fisico, por exemplo).

JUSTIÇA: o desejo de buscar justiça é movido pelo desconforto da raiva que a injustiça nos causa. A raiva é a resposta genética frente à injustiça, assim como a fome e a sede o são, frente às privações. 

Seu alívio pode ser tosco, como na vingança, p.ex., ou pode ser bem construído e eficiente, como nas negociações que levam em conta ambas as partes (promotoria e defesa, p.ex.). 

Também existe um prazer parecido com o apetite, na busca de justiça, quando a própria injustiça é provocada, e o fazer justiça se torna uma brincadeira sob nosso controle e alcance (como nos filmes de ação, nos jogos competitivos e nos videogames, p.ex.).

FAZER SENTIDO: seu desconforto é a perplexidade e a intriga. Seu conforto buscado serve à sobrevivência e a ter as coisas sob controle, inclusive a busca dos outros prazeres. 

O desconforto pode ser intenso, como por exemplo nas doenças, nas pragas, nas variações do clima, que só vieram a fazer sentido e nos dar certo controle através da ciência. 

Mas o desconforto moderado pode ser gostoso, pode ser uma brincadeira, como nas pesquisas, nos livros e filmes de investigação criminal, por exemplo.

Esses desejos conversam entre si, e toda essa conversa serve àquelas duas motivações iniciais: sobrevivência e à procriação.




 

terça-feira, 25 de junho de 2024

FORA DE QUE CAIXINHA?

 


“Pensar fora da caixinha” expressa capacidade criativa. Mas, de que caixinha se está falando? 

Refleti sobre isso quando um aluno me perguntou a que eu devia minha criatividade em psicanálise, e assim me dei conta da sorte que tive na vida: minha formação psicanalítica não se deu dentro de nenhuma caixinha, não fui filiado a nenhuma instituição.

A caixinha em questão se refere à tribo de amparo, aquela de que não se pode divergir sem risco de expulsão. Aquela que formata nosso Superego assustador: “olha lá, hein?” 

As crianças são criativas enquanto não são postas em caixinhas limitadoras e impositivas. Como exemplo, eu adorei ler livros desde criança, pois era um brinquedo só meu. 

Mais tarde, as escolas puseram os livros dentro da caixinha do dever de casa… e nunca mais as crianças leram, pois transgressão é uma triste forma de submissão às caixinhas…



quinta-feira, 20 de junho de 2024

OUVIDO NO CONSULTÓRIO

 



O cliente estava contando uma história para os amigos; seu pai, ainda que fora do grupo, escutava:

“Ele ficou encantado com a beleza da vizinha e botou na cabeça que iria se casar com ela. Marceneiro numa cidade pequena, se arrumou todo e foi fazer sua proposta. Mas a moça disse que era virgem, e que queria continuar assim. Ele disse que prometia não encostar nela, só queria que ela se casasse com ele. Ela aceitou, e eles se casaram”.

O pai, ao lado, comentou: “Mas que maluquice! Que cara bobo!”

A história continuou: “Acontece que uns tempos depois a moça ficou grávida… mas não do marido!” Comentário do pai: “Mas que sem-vergonha!” 

“O marido foi tirar satisfações com a mulher, mas ela jurou que não tinha transado com ninguém, que continuava virgem”. O marido aceitou as explicações e a apoiou na gravidez. E o pai: “Além de corno, otário! Mas que mulerzinha mau-caráter!”

“Pois é, a gravidez correu bem, o menino nasceu e cresceu com saúde, amparado pela mãe e pelo marceneiro, e acabou mundialmente famoso, pois aos 33 anos foi condenado à morte e morreu crucificado”.

Nessa hora, o pai, católico fervoroso, deu um gemido fundo de dor, como se tivesse levado uma facada no peito. No dia seguinte, o cliente foi convocado pela mãe, que lhe deu uma descompostura por ter blasfemado na casa deles, que aquilo era inaceitável etc.

O filho respondeu que não, que nunca havia proferido uma blasfêmia, sequer um adjetivo, que ele tinha contado os simples fatos, sem a aura do sagrado, como os locais de Nazaré teriam feito, na época.



quarta-feira, 19 de junho de 2024

ZONAS ERÓGENAS PARECIDAS

 


Uma surpresa de consultório foi a semelhança que descobri entre duas potenciais zonas erógenas: os canais vaginal e retal. Potenciais sim, pois depende da loteria genética se elas serão causadoras de prazer sensório.
Claro, tudo começou com as mulheres, pois elas já foram vistas pela psicanálise com desconfiança “por terem orgasmo imaturo” (orgasmo a partir do estímulo do clítoris, e não da penetração vaginal). 

Essa idiotice, se aplicada aos homens, iria chamá-los de imaturos “por terem orgasmo a partir da estimulação do pênis”. Sim, porque o pênis nada mais é do que o clitoris do feto, que se desenvolveu por causa da testosterona.

A seleção natural fez todos os homens terem orgasmos, pois a sobrevivência da humanidade depende do orgasmo masculino (por causa da procriação). Por isso eles treinam inevitavelmente desde cedo a masturbação, resultado daquele clitoris crescido e conspícuo.

Já as mulheres não. Nelas, a procriação não tem nada a ver com o orgasmo. Enquanto o orgasmo masculino é uma necessidade, o feminino é um luxo. Porque as únicas zonas erógenas obrigatórias são o pênis e o clitoris. As outras dependem da loteria genética (é lotérica mesmo, tem gente que tirou a sorte grande).

Mas, e o orgasmo vaginal? É loteria. O canal vaginal é um conjunto de músculo e mucosa que pode ser erógeno ou não. Haverá mulheres que terão orgasmo por pura penetração, e outras que precisarão do estímulo clitoriano durante a penetração. 

Mas… mesmo nas mulheres que não têm o canal vaginal como zona erógena, a penetração terá um papel psicológico e facilitador do orgasmo muito importante: a entrega, o desligamento dos controles e das cobranças: se o Superego não sair de cena, não haverá orgasmo. 

O que me levou ao outro achado: o canal retal como similar ao canal vaginal (estrutura muscular e mucosa/zona erógena ou não). Ouço o relato de homens, gays ou héteros, sobre o que descobriram sobre seus canais retais: que, como o canal vaginal das mulheres, o reto pode ser erógeno ou não. 
Que, como as mulheres, há homens que têm orgasmo anal sem estímulo do pênis (inclusive sem ereção!) e outros que usam a penetração anal como estímulo psicológico (entrega, desligamento de controles) para ter orgasmo através da masturbação do pênis.

E mais, como os orgasmos vaginais e retais se parecem: podem ser prolongados, mesmo intermináveis; podem produzir estremecimentos e contrações musculares pelo corpo todo; podem ser mais intensos do que qualquer orgasmo genital, frequentemente são descritos como o maior prazer que a pessoa já sentiu na vida.

Isso, é claro, se aplica a homens e a mulheres. Só que as mulheres exploram pouco seus potenciais anais… por desinteresse, delas ou dos parceiros, ou por restrições do Superego. 

E novamente aí se assemelham a muitos héteros. Em ambos os casos, os que se aventuraram nesse terreno descobriram-se eventualmente premiados na loteria…


terça-feira, 18 de junho de 2024

O AMIGO PERGUNTA : PSEUDOCIÊNCIA?

 



De Renato Capper : “O que você acha do que a Natália Pasternak disse sobre a psicanálise, que ela é uma pseudociência?”

Francisco Daudt: Acho que só temos a lhe agradecer: ela funcionou como o menino da fábula que disse “o rei está nu”. Ela nos fez um grande bem quando botou o dedo num assunto precioso para quem é psicanalista e tem aspirações iluministas e racionais: que tipo de conhecimento é a psicanálise?

Se há um reparo a fazer no que ela disse, seria que a psicanálise não é, nem pode ser (pelo menos por enquanto) uma ciência. Eu quero que ela seja uma protociência, um conhecimento que ambiciona ser científico, mas ainda não pode ser, dada a complexidade da mente humana.

Algo como um dia foi a alquimia, a primeira tentativa de abordar aquilo que se tornou a química: ainda muito em fase de observação, experimentação e hipóteses, algumas (ou muitas) viagens na maionese, algumas (ou muitas) embriaguezes delirantes, mas… com alguns (ou poucos) pesquisadores - nos quais me incluo - com genuíno desejo iluminista de razão, de lógica, e da humildade própria ao espírito científico: ainda não sei se o que observo é verdadeiro ou falso, mas quero muito saber, quero muito testar, quero muito dar a cara a tapa.

Esse “dar a cara a tapa” é o princípio de Karl Popper, meu filósofo da ciência predileto. Ele dizia que, no método científico, as hipóteses precisam estar vulneráveis à refutação, a que lhes apontem os erros: se elas forem sobrevivendo a essa peneira, têm chances de ser verdadeiras, mas… continuarão como alvo de questionamento, nunca se afirmarão como verdades absolutas.

Ele foi o legado de Freud: ele, no final da vida, foi deixando de lado o “Freud explica” em favor do “Freud investiga”; deixando de lado as interpretações para, como diz o título de um de seus últimos trabalhos, “Construções em análise”.




quarta-feira, 12 de junho de 2024

EFEITO PAC - QUANDO A FALTA DE EMPATIA VEM DO TDAH

 


Um relato curioso de consultório me fez ver que nem toda falta de empatia é resultado de narcisismo. 

Ou, assim como existe o “narcisismo de tumulto mental” (a cabeça está tão alugada que não sobra espaço pra mais ninguém), o TDAH também pode promover esse tumulto, e incapacitar a pessoa para a empatia.

O relato, que vou chamar de “efeito Pac”:

“Pac" é o nome do cachorro que mora na casa do Gustavo, e que adora ele. Um dia eu fui levar o Gustavo na casa dele, ele só tinha que pegar uma coisa, de modo que eu fiquei embaixo do prédio, esperando no carro. 

Pois ele demorou VINTE MINUTOS! Tive que interfonar pra saber o que tinha acontecido. Aí voltou. “O que houve?” Ele:

1. não tinha se dado conta da demora e ficou envergonhado quando eu disse que tinha ficado esperando por vinte minutos. 

2. me explicou que quando ele entrou em casa, o Pac fez tanta festa pra ele, que ele ficou lá brincando… e se esqueceu de mim! Melhor dizendo: eu sumi de sua cabeça até que disseram pra ele que eu estava no interfone.”

Entendi que o “efeito Pac” não é nenhuma sacanagem, nem descaso, nem desinteresse, nem desamor: ele é parte do TDAH, que o TDAH atrapalha a empatia (ter o outro em mente, lembrar dele, se interessar por ele). 
O TDAH aumenta por si só o índice de narcisismo da pessoa, sem que isso implique narcisismo genético, muito mais grave. 

Mesmo porque o apenas portador de TDAH não tem a assinatura do narcisismo genético: a permanente necessidade de se afirmar como foda, por medo de ser merda.



terça-feira, 11 de junho de 2024

O AMIGO PERGUNTA AO DR.DAUDT AI - CLASSIC (cita os livros consultados)

 



“Que papel a psicologia evolucionista desempenha, na psicanálise?”

Dr Daudt AI Classic

Francisco Daudt discute o papel da psicologia evolucionista na psicanálise em "O amigo pergunta". Ele argumenta que a psicologia evolucionista estuda os comportamentos que herdamos de nossos ancestrais, comportamentos que "já vêm com a máquina" devido à seleção natural. Esses comportamentos são fundamentais para a sobrevivência e reprodução da espécie.

Daudt acredita que a psicologia evolucionista e a psicanálise se complementam: enquanto a psicologia evolucionista contempla a espécie, a psicanálise contempla o indivíduo. Ele defende que não é possível entender completamente o indivíduo sem considerar as forças biológicas da espécie que nele operam. 

Por exemplo, a necessidade de amparo, que é uma característica biológica fundamental dos seres humanos, influencia profundamente nosso comportamento e nossas interações sociais.

Ele critica a visão culturalista que considera o ser humano como uma "folha em branco" onde a cultura escreve tudo, ignorando as influências biológicas. 

Para Daudt, a integração da psicologia evolucionista na psicanálise é essencial para uma compreensão mais completa e precisa do comportamento humano.

Isso faz sentido pra você?



EXPERIMENTE: www.drdaudtai.com






TIRAR O DRAMA FAZ PARTE DA CURA

 


Todas as orientações terapêuticas começam por tirar ou relativizar o drama. O fato de se fazer diagnóstico do problema é o meio principal de se tirar o drama, pois se a aflição de origem desconhecida é dramática, a aflição que se entende e que se pode curar não é dramática.





IT’S ALIVE!!!!


Agora o Beto fala! A face “humana” do Dr.DaudtAI, o Beto, agora não só responde por escrito. Ele fala! O usuário não precisa escrever texto, o usuário fala com ele, e ele responde com voz.

Quando entrar no aplicativo, vá às barras horizontais acima e a direita da tela e clique nelas. Vão abrir três opções: Classic (pesquisa teórica); Contemporary (consultas profissionais) e Beto AI (conversa). Clique no Beto e pode começar a conversar.


EXPERIMENTE: www.drdaudtai.com



terça-feira, 28 de maio de 2024

O SUPEREGO SE PARECE COM DEUS PAI

 


Não se trata de fé, ou de crenças religiosas, mas de como minha cabeça de criança, formado que fui por família católica fervorosa, entendeu esse personagem meio esquecido e pouco falado: Deus Pai.

Ele tudo via. Sua representação mais conhecida era a de um enorme olho dentro de um triângulo. Não adiantava tentar esconder nada dele, nem mesmo nossos mais íntimos pensamentos. 

Ele não só via, mas julgava com severidade, através de seus dez mandamentos impossíveis de serem cumpridos ao pé da letra (por exemplo:“amar a Deus sobre todas as coisas”? Mais que a meu pai e mãe? Eu deveria sentir culpa a cada onda de amor por eles, sem nenhuma correspondente ao Criador?). 

Se houvesse transgressão por “PENSAMENTOS, palavras, obras e omissão, o destino era um só: a eternidade no fogo do inferno! Ele mesmo havia expulso Adão e Eva do paraíso. Não só os dois, mas todos os seus descendentes, nós, os “degredados filhos de Eva”. Não havia dosimetria de pena comparável em toda a história humana.

Pois quando fui entendendo da mente humana, vi uma semelhança enorme entre o Deus Pai e o Superego: 

1. Ambos estão “acima de mim” (Superego significa exatamente isso, em latim).

2. Ambos “tudo veem”, até nossos mais íntimos pensamentos.

3. Ambos tudo julgam com a pena que nos causa a maior angústia: o desamparo, o degredo, a expulsão do paraíso, essa que é o verdadeiro inferno na Terra.

4. Ambos causam culpa, “minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa” em caso de transgressão das tais leis.

Não admira que fosse tão fácil e compreensível, para o menino que fui, acreditar na existência desse Deus Pai: ele morava em minha cabeça… como meu Superego.


terça-feira, 21 de maio de 2024

APRESENTANDO O BETO AI

 


O Beto é um funcionário - com imagem construída pelo Bing - do meu aplicativo de psicanálise (Dr.Daudt AI), que vai ser um servidor do usuário.

Se o usuário só quiser fazer consultas teórico/práticas mais rápidas, pode usar diretamente o Dr.Daudt.

Se quiser alguém para conversar sobre suas questões, alguém que use o conhecimento do aplicativo em forma de conversa, pode escolher falar com o Beto.

Ele vai estar a seu serviço, pesquisando no texto do aplicativo e respondendo/perguntando mais, com toda a desimportância de um parceiro, de um amigo virtual, sem nenhuma importância de um psicanalista.

Ah, ele se chama Beto porque é apelido de Aberto AI (“Open AI”).

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