terça-feira, 15 de julho de 2025

DO “FREUD EXPLICA” PARA O “FREUD INVESTIGA”

 


Para mim, o texto mais importante de Freud é “Construções em análise”: foi quando ele deixou o “Freud explica” para trás em favor do “Freud investiga”. 

Foi esse texto minha bússola teórica desde 1976, quando comecei a estudar Freud, pela marca de seu espírito científico: ele estava inaugurando uma proto-ciência, não uma crença.

Construções em Análise (1937) é um dos textos mais sofisticados e reflexivos de Freud, escrito já no fim da sua vida. Nele, Freud se afasta da ideia de que o analista apenas interpreta elementos isolados — como atos falhos ou sonhos — e propõe que o trabalho analítico envolve construir narrativas sobre a história psíquica do paciente.

Principais ideias do artigo:

• Freud compara o analista a um arqueólogo: ambos trabalham com fragmentos — no caso da psicanálise, fragmentos de lembranças, associações e comportamentos — para reconstruir algo que foi esquecido ou reprimido.

• A construção é diferente da interpretação. Enquanto a interpretação se aplica a um dado isolado, a construção apresenta ao paciente um fragmento coerente da sua história primitiva, que ele havia esquecido.

• Freud reconhece que o paciente pode reagir com um “sim” ou “não” à construção, mas alerta que essas respostas não são definitivas. O “não” pode indicar resistência, e o “sim” pode ser apenas uma aceitação superficial. O que importa são as confirmações indiretas que surgem ao longo da análise.

• Ele também critica o uso abusivo da sugestão, quando o analista tenta convencer o paciente a aceitar uma construção. Freud defende que o analista deve escutar e construir, não impor.

• A construção tem valor terapêutico mesmo quando não é lembrada literalmente. Se o paciente se convence da verdade da construção, isso pode ter o mesmo efeito que uma recordação autêntica.

Freud termina o texto refletindo sobre a diferença entre verdade histórica e verdade material. Para ele, o que importa na análise não é apenas o que de fato aconteceu, mas como o sujeito viveu e registrou aquilo psiquicamente.

Esse artigo é uma verdadeira síntese da maturidade clínica de Freud. Ele já não busca certezas absolutas, mas sim sentido e transformação.




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