domingo, 28 de fevereiro de 2021
MÃE NATUREZA (do 1 ao 5)
O AMIGO PERGUNTA - A “BONZINHICE”
O ELOGIO DO MIMO
NATUREZA HUMANA 5 - O ELOGIO DA IGNORÂNCIA ASSUMIDA
MÃE NATUREZA 4
MÃE NATUREZA 3
MÃE NATUREZA, INJUSTA E DESIGUAL 2
MÃE NATUREZA, A INJUSTA E DESIGUAL
Pornografia educativa
domingo, 14 de fevereiro de 2021
NÃO EXISTE CULTURA INÚTIL
INVEJA, UMA INJUSTIÇA INJUSTA
A PSICANÁLISE E AS CIRCUNSTÂNCIAS
A ARMADILHA DO PRAZER

“O que dizer sobre o instinto materno e o relógio biológico?” - O AMIGO PERGUNTA
domingo, 7 de fevereiro de 2021
AGRAVANTES E ATENUANTES DA IMBECILIDADE
“Minha questão aqui é que a ninguém a imbecilidade é alheia, não há quem esteja imune a ela”.
"Os imbecis perderam a modéstia"; "Os idiotas vão dominar o mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos."
As famosas frases de Nelson Rodrigues constatam uma triste realidade da espécie. Não à toa o primeiro-ministro britânico Winston Churchill disse que a democracia era o pior dos regimes (com exceção de todos os outros).
Queixar-se da imbecilidade humana, porém, é como queixar-se da chuva: é um dado da natureza e não há nada a fazer, exceto proteger-se dela.
Minha questão aqui é que a ninguém a imbecilidade é alheia, não há quem esteja imune a ela; todo Einstein tem seu momento de Eremildo, o personagem idiota do Elio Gaspari. O que quero comentar são os fatores que agravam a imbecilidade, e os que a atenuam, para que todos nós possamos lidar melhor com ela.
Você pensará que lidar melhor com ela visa apenas atenuá-la, mas não; eu acredito que há muita gente mal-intencionada querendo aumentá-la. Se não, como explicar o descalabro da educação pública?
Afinal, a educação é o pilar da busca da igualdade de oportunidades; é o que transformou a Coreia do Sul em potência econômica em poucas décadas. Em nossa terra, todavia, é entregue às baratas.
Deve haver muito político temendo um povo esclarecido, preferindo pobres mendigando por uma bolsa-esmola a troco de votos.
A chave psicológica do aumento/diminuição da imbecilidade está na capacidade humana de reflexão/reação. Se somos induzidos à reatividade, nossa burrice aumenta. Se temos espaço para a reflexão, cresce nossa inteligência.
É verdade que nossa espécie não teve muito estímulo para a reflexão em suas origens: imagine um ancestral nosso na savana africana vendo um bando de amigos em correria. Se ele parasse para refletir sobre o pânico público, provavelmente teria sido devorado por um predador, não deixando descendentes.
A reatividade de sair correndo junto aos amigos salvou sua vida. A filosofia teve mais chance de existir quando o grego clássico pôde tranquilamente conversar e refletir com seus pares na Ágora.
Eis que nesse cenário acima está o que determina a reatividade e o que possibilita a reflexão: sentir-se ou não ameaçado; precisar ou não se defender. De fato, todos os mecanismos de defesa psíquicos são emburrecedores.
Tomemos apenas a negação como exemplo: todos nós estamos fadados a morrer. A morte e os impostos são as duas únicas certezas da vida. Agora considere a quantidade de energia que a humanidade investe na negação da morte.
Considere o aluguel mental que isso traz, todas as derivações dessa negação (Galileu e a rejeição ao heliocentrismo, por exemplo), e você terá uma pálida ideia da influência emburrecedora dos mecanismos de defesa.
Para um exemplo mais recente, considere os nossos debates políticos. Há espaço para reflexão neles? Todos se ocupam de atacar o oponente por meio dos piores adjetivos, pois sabemos que a melhor defesa é o ataque. Claro, todos estão sob a ameaça dos rótulos horríveis que cada parte lhes lança. Assim, só fazem reagir. É a imbecilidade desfilando em toda sua glória.
Algo em âmbito mais próximo? Pense nas DRs (discussões de relação). A ameaça de rompimento, de desamparo, de perda de amor está tão presente que a reatividade defensiva impera, é por isso que não se vai muito longe nelas Se elas começassem com uma declaração apaziguadora (eu te amo e quero me entender bem com você), as chances de reflexão seriam maiores.
Todas as doenças psíquicas neuroses, psicoses, perversões, depressão, psicopatia derivam de estarmos aprisionados a mecanismos de defesa contra as ameaças do mundo (i.e., do superego), e sabemos como elas nos reduzem a capacidade de raciocinar.
Eis porque adoro a conversa calma e amigável; o ambiente que acolhe e não acusa; a amizade que não pressupõe malícia da outra parte; a autoridade do saber, e não a de mando; a democracia parlamentar, e não a tirania.
“Como obsessivos veem a ambivalência?” - O AMIGO PERGUNTA
Francisco Daudt: Não veem. O problema é esse. Um obsessivo tem particular dificuldade para aceitar a ambivalência, principalmente em si, secundariamente nos outros.
Para o obsessivo, vale o poema de Cecília Meireles: “ou isso, ou aquilo”. Nunca os dois. Jamais um obsessivo dirá “eu gosto de fulano, mas também às vezes quero matá-lo”. Ou ele gosta, ou ele não gosta. O não gostar será visto como impureza do gostar.
A obsessividade é um traço genético que faz a criança ver sua raiva das pessoas importantes (pai e mãe, p.e.) como uma séria ameaça de retaliação/desamparo, e isso detona nela um processo de buscar pureza de sentimentos. A raiva precisa ser banida como se fosse uma imundice.
Eis o que leva os obsessivos a funcionarem sobre os eixos do controle e da pureza (sendo que o controle serve à pureza). Acertam os quadros na parede porque são puros, e aquele “desvio” os incomoda. São bons e arrumados porque não abrigam impurezas de sentimentos. Se consideram intimamente uma fraude porque sabem que o 100% puro é inatingível. Estão em permanente questionamento da intenção de seus atos porque buscam a eliminação do ruído, da impureza.
Por isso é tão difícil fazer com que o obsessivo aceite a ambivalência: sim, você gosta e não gosta, em tempos diferentes, e os dois sentimentos valem, ambos valem, “ambi + valência”.
CANCELAMENTO
Matéria do 2º caderno do Globo de hoje me fez entender melhor o que é o tal cancelamento de que tanto se fala.
Ele é o mesmo que os muito antigos “justiçamento” e “linchamento”: ações extralegais violentas de correção de costumes/punição de crimes.
Eles atendem vários desejos humanos primitivos: proeminência social por superioridade moral; ganhar importância pelo meio fácil da destruição; identidade tribal/grupal; sentir-se do “lado certo/justo”, além de um último e sinistro, o de ser ativo da morte.
A nossa espécie é a única que tem consciência de que vai morrer, isto acaba por fazer do assassinato (e seus congêneres, como o suicídio, o genocídio, a guerra e outros “cídios”) uma permanente tentação. Algo semelhante ao instinto de morte que Freud descreveu.
Por rebeldia contra nossa passividade frente à morte, nós desejamos ter controle sobre ela, mesmo que sendo a morte dos outros.
Mas o linchamento é muito trabalhoso. O cancelamento, não: ele está ao alcance dos dedos.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
O AMIGO PERGUNTA - “Narcisismo é uma doença?”