sábado, 22 de março de 2025

A ECONOMIA DO LUTO

 


“Eu me separei da minha namorada que me enchia o saco, mas ando meio triste, pensando muito nela. O que se passa?”

Francisco Daudt: Existe uma base econômica para qualquer dos nossos atos: todos passam por uma avaliação de custo-benefício e são feitos quando se reúnem motivação, meios e oportunidade. 

Você rompeu movido pelos custos, pois sua balança interna - consciente ou não - de custos-benefícios pendeu para o peso dos custos. Os custos (psíquicos e outros) cessaram, mas… os benefícios também. O luto é sempre pela perda dos benefícios.

Por comparação, o cliente que perdeu sua mãe depois de 15 anos de Alzheimer me disse que não sentiu luto nenhum. Pudera, os benefícios já tinham se perdido ao longo daquele tempo, o luto foi em pequenas prestações, e só ficaram os custos. Ninguém tem luto por custos cessantes.





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CSI E PSICANÁLISE

 


“Você diz que gosta dos CSI (investigação da cena do crime) porque eles são parecidos com a boa psicanálise. Como assim?”

Francisco Daudt: Tanto neles como na psicanálise, tudo começa com um enigma complexo. A investigação, lá e cá, é um trabalho de engenharia reversa com tentação de respostas rápidas a ser evitada. 

O engraçado é que eles têm personagens toscos (o policial careca Rex Linn) que sempre saltam para se agarrar em conclusões (“jump to conclusions”) rasas, enquanto a turma científica reúne fragmentos que sirvam de pistas, e nunca “fecham o caso” enquanto não descobrem bases consistentes para suas hipóteses.

Essas bases vêm de diversas fontes: da balística (minha adorável Emily Procter), da legista (mais querida ainda Khandi Alexander), do laboratório (Eva LaRue), do pessoal da cena (Adam Rodriguez e Jonathan Togo), todos levando seus achados para o analista principal David Caruso, que liga as provas e apresenta suas dúvidas até se dar por satisfeito.

Esse trabalho de levantar hipóteses a partir dos achados, e deixá-las vulneráveis à refutação e ao descarte diante de novas evidências é a cara do método científico de Karl Popper, meu farol-guia da investigação psicanalítica. 

Raciocinar junto tendo a razão iluminista como bússola é o meu barato, no CSI e no consultório.





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O AMIGO PERGUNTA SOBRE PSICOPATAS


“Já ouvi você dizer que se o psicopata não tivesse Superego ele podia se dedicar a polir maçanetas, por exemplo. Me explica a psicopatia então?”

Francisco Daudt: A psicopatia é outra doença que a psicanálise não alcança. Suas características (falta de empatia; manipulação; ausência de culpa ou remorso; comportamento impulsivo sem medir consequências; charme superficial; desrespeito por normas sociais) sugerem que ela funcionaria como o mais alto grau de narcisismo.

É senso comum dizer que o psicopata não tem Superego, mas não entendo assim. Ao contrário: já disse que o narcisismo traz consigo um Superego especialmente cruel, que impele a uma constante defesa de suas acusações desqualificantes da pessoa (“você é mesmo um merda”). 

Imagine-se isso num psicopata! Se o psicopata não tivesse Superego, ele poderia se dedicar a outras coisas na vida, em vez de ter que desafiá-lo o tempo todo.




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terça-feira, 4 de março de 2025

“COM UM TIRANO NA CABEÇA” - A PSICANÁLISE DO SUPEREGO E SUA HISTÓRIA

 


Mas por que o mal-estar com o pai seria traumático? É óbvio, está diante de nossos olhos, mas como é tão comum e básico, nós não vemos: concentração de poder, e de poder de amparo. 

Nossa espécie nasce tão necessitada de amparo, que pagamos qualquer preço para tê-lo. Se alguém tem o monopólio do nosso amparo (como na paixão, p.ex.), esse alguém adquire um poder sem igual sobre nós: vamos querer agradá-lo, vamos fazer qualquer coisa para que ele não nos abandone, não nos desampare, acima de tudo vamos temê-lo. 

É dai que vem a expressão “temor a Deus”: ele concertava todo o amparo. É só lembrar o que ele fez com Adão e Eva: desobedeceram? Desamparados para sempre…

Essa concentração de poder tem a ver com a política: no governo tirânico, só há um poderoso, e todos o temem. Na democracia, os poderes são três, eles conversam entre si e vigiam para que ninguém se torne monopolista, inibem candidatos a tirano: os direitos são iguais.

(Do meu livro em andamento).






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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

A MELHOR CONTRIBUIÇÃO DA FERNANDA TORRES AO BRASIL…

 


A MELHOR CONTRIBUIÇÃO DA FERNANDA TORRES AO BRASIL…

…é sua capacidade de autogozação. A leveza com que ela ri de si mesma influencia nosso senso comum a valorizar o não levar-se a sério.

Ela pode ganhar o Oscar por um drama, mas já ganhou meu coração por fazer um lindo marketing do “tirar drama” em cada aparição pública que nos faz sorrir. 

Ela abranda o Superego nacional!






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domingo, 23 de fevereiro de 2025

O AMIGO PERGUNTA SOBRE TRAUMA

 



“O trauma é sempre um acontecimento impactante?”

Francisco Daudt: Não. Existem dois tipos de trauma que levam a doenças psíquicas: o trauma original e o trauma atual. O trauma original mal é percebido, pois ele se estende por muito tempo, é uma ameaça surda e muda de desamparo. O trauma atual é sim impactante e momentâneo.

Vamos de exemplo que fica mais fácil. Suponha um clima ruim entre os pais e uma criança. Por algum motivo, ela é rejeitada pelos pais (ou por um deles, ou por quem a ampare na infância: tem que ser um amparo importante). Essa rejeição não é muito explícita, e muito menos explicada. É só um clima ruim com momentos piores. A criança se sente no Processo de Kafka: acusada de algo que ela nem tem ideia do que seja, nem lhe é explicado; mas ela sabe que está marcada.

Esse climão é o trauma original. Veja que ele nem é muito consciente, nem muito claro, nem nada. Ele é um “cozimento em banho-maria”. A criança se sente injustiçada, a injustiça provoca raiva, uma raiva que ela não pode ter, caso contrário será desamparada. 

Para agravar, há a tensão da perplexidade, da coisa intrigante e assustadora, aquilo que é claramente importante mas não entendemos, e por isso nos assombra. Essa indigestão mental recebe o nome de TRAUMA ORIGINAL.

Um dia, uma barata entra voando em casa e vai pra cima dela. A partir desse dia ela passa a ter fobia de baratas. 

Esse é o trauma atual: ele pegou aquele drama incompreensível do trauma original e deu-lhe sentido: “Ah, agora eu sei qual é o meu problema: não é nada com meus pais, imagine, eles me amam. Meu problema são as baratas”. O TRAUMA ATUAL é o desencadeante da neurose.

É esquisito, mas a doença neurótica acaba sendo um alívio, um mal menor administrável (basta fugir das baratas) que substitui o maior, impossível de administrar.

(Do texto base da Psicanálise do Superego do aplicativo DrDaudtAI)





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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

VÍCIO EM ACUMULAÇÃO


Um de seus motivadores parte da ideia obsessiva de que algo pode ser ainda útil, um dia, e pode inabilitar a casa para outros usos que não o de depósito. Há sempre uma explicação racional para isso.

Nos EUA, não é incomum que cadáveres de acumuladores sejam descobertos, sepultados por seus objetos. Lembrando: a linha que separa o hábito do vício é o dano causado. Vício causa dano. Atualmente, com as compras online, o vício da acumulação costuma vir junto com o vício do consumo compulsivo.

Outro componente importante, talvez o principal, do vício da acumulação, é a postergação, ou procrastinação: o jogar fora pode ser uma tarefa imposta pelo Superego, diante da qual a transgressão vira “ah, dane-se, depois…” É claro que, quanto mais a acumulação aumenta, mais vontade de postergar sua solução aparecerá.

Um agravante para essa postergação é a boa intenção de preservar o meio-ambiente através do descarte seletivo, pois ele dá tanto trabalho que a vontade de deixá-lo para depois aumenta.





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