O AMIGO PERGUNTA
“Palmada forma Superego? O que forma o Superego?”
FD: É curioso, mas o senso comum impôs aos pais duas coisas que não existiam na minha infância: o horror ao castigo físico, como se fosse alguma espécie de crime, e a obrigatoriedade de “ser amiguinho” dos filhos, de dizer-lhes “eu te amo” o maior número de vezes possível.
Não adianta fazer a defesa da palmada: nesses tempos patrulhados, ela não voltará nunca mais. Porém… havia nela virtudes, que eram a clareza entre crime e castigo (“eu fiz merda - eu levei palmada”), a dosimetria da penalidade era justa (nenhuma palmada machucava, só assustava; a pena se encerrava no ato, não haveria caras e bocas depois, não durava mais que seu segundo, não havia prolongamento nem “clima”).
Não havia na palmada o principal elemento formador do Superego: a ameaça velada de desamparo que o silêncio, o gelo e a cara fechada trazem. Eles contêm uma falta de clareza, uma falta de relação crime/castigo que produzem efeitos duradouros: como a dosimetria da pena é injusta (“tudo isso só porque eu deixei cair a xícara?”), o ressentimento/raiva despertados não são claros, não há advogado de defesa, paira um sentimento de dívida, de estar em falta, de medo de que “não gostem mais de mim”. É o desamparo. É ele que vai formar o Superego, por medo inconsciente do desamparo.
Ok, tiraram a palmada de cena, mas… não houve substituição educativa justa e clara como a dela.
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Quando ao “eu te amo”, nenhuma criança nascida até os anos 1960 jamais ouviu essa frase dos pais. Ela era desnecessária. E pior, quando a frase é dita pela boca, mas a atitude diz o contrário, só causa confusão e desconfiança nos filhos.
Aqui vai o depoimento de Marcelo Rubens Paiva sobre sua mãe Eunice, hoje tão famosa por causa do filme “Ainda estou aqui”:
“Ela não exercia seu afeto por meio de afagos, mas pela praticidade. Nunca me disse “eu te amo, filhinho”. Mas eu sabia que ela me amava, orgulhava-se de mim, sem demonstrar.”
Cadstre-se em: drdaudtai.com
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