domingo, 20 de abril de 2025

UMA HISTÓRIA DE PÁSCOA

 



Aos 95 anos, minha mãe comandou mais um almoço de Páscoa. Todas as providências tomadas, ovinhos de chocolate escondidos no jardim, os filhos, genros, noras, netos e bisnetos enchendo a casa, ela apareceu por uns breves momentos, festejou e foi festejada, em seguida voltou para seu quarto, pois se a cabeça permanecia vívida como sempre, o corpo já não ajudava.

Às 3h30 da madrugada seguinte, o telefone me acorda (em 2008 ele ainda era fixo): “É melhor você vir, a ambulância está aqui, eles vão levá-la para o hospital”.

Ah, isso é que não vão mesmo! Em 5 minutos cheguei lá e os enfermeiros já desciam as escadas com ela na maca, tentando arrancar fora o cateter de oxigênio. “Pode voltar agora e colocar ela de volta na cama, que ela quer morrer em casa!”

Esse negócio de ser médico dá base a uma autoridade muito funcional. O colega da ambulância me apertou as mãos, solidário, como a dizer, “se fosse minha mãe, eu faria o mesmo”.

Já na cama, ela disse, 
“Ah, que bom estar de volta ao meu cantinho! Mas, meu filho, afinal, qual é a minha doença?”
“É coração fraco, mãe”.
“Ahn… e as crianças, acharam os ovinhos?”
“Acharam sim”.

Murmurou alguma satisfação, e morreu. No comando de sua vida até o último minuto…







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