sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

GAY ENRUSTIDO?

 


O AMIGO PERGUNTA

João Bandeira: “Você disse que a homofobia é resultado de um medo de uma fração gay da própria pessoa. Quer dizer que o homofóbico é um gay enrustido?”

Francisco Daudt. Não necessariamente. Os héteros sem nenhuma capacidade de desejo homoerótico são apenas 50% da população; assim como os gays sem nenhuma capacidade de desejo hétero são só 3%. O resto tem misturas percentuais variadas.

Como se avalia essa predominância de desejo? Entre os homens, é muito fácil: “para onde vão seus olhos?, que corpos te atraem?”. A resposta a essa pergunta define a predominância hétero ou homoerótica.

Definindo gay como quem tem mais de 50% de desejo homoerótico, um hétero pode bem ter 10% de desejo homoerótico, fazer disso um drama, e em vez de desfrutar desse seu "capital", em vez de fazê-lo render lucro, o coitado pode morrer de medo e entrar em mecanismos de defesa como a projeção, apontar os outros e dizer que "gay é ele, eu não!".

O termo “enrustido” significa que a pessoa tem plena consciência de algo que quer ocultar. Não é o que costuma acontecer com a “turma dos 10%”, pois eles causam mais perturbação do que consciência.






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UMBERTO ECO DEFINE O QUE É UM INTELECTUAL

 


O que é, afinal, um intelectual?

Para Eco, o verdadeiro intelectual não é definido por uma profissão ou classe social. Ele é aquele que “produz novos conhecimentos através da criatividade.”

O exemplo é brilhante:
Um camponês que descobre um novo enxerto capaz de criar uma nova classe de maçãs está, de fato, realizando uma atividade intelectual. Enquanto isso, um professor de filosofia que repete, ano após ano, a mesma aula sobre Heidegger pode não estar sendo um intelectual de verdade.

A chave, então, é a criatividade crítica: a habilidade de questionar, analisar e reinventar aquilo que fazemos.

“É a única régua capaz de medir a atividade intelectual”, conclui Eco.

Trecho inspirado na entrevista com Umberto Eco (1932-2016).






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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

SUPEREGO E INTELIGÊNCIA

 


Nossa inteligência é nossa capacidade de processar arquivos de memória que moram em nosso cérebro.

Quando o Superego é poderoso, ele restringe o acesso a esses arquivos: haverá arquivos que causam desconforto, que causam pudor, vergonha, medo, nojo, culpa, ridículo, enfim, todos as ameaças e angústias que moram no arsenal do Superego. Ele nos dará choques só de tentar acessar esses pensamentos e memórias.

Resulta que o Superego é um redutor de nossa inteligência, por ser um redutor de nosso acesso aos arquivos de memória. A inteligência depende do pensamento livre e despudorado. Quanto menos Superego, mais inteligência.

Isso não é surpresa, se tomarmos a metáfora da tirania como base: nenhum tirano quer súditos inteligentes.

Os tiranos não querem súditos pensando por si próprios, eles querem súditos dependentes e submissos às suas palavras sagradas inscritas em seus comunicados oficiais. Se alguém questioná-las, já sabe…




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terça-feira, 19 de novembro de 2024

COMO DISTRAIR O SUPEREGO

 


O Superego do Dumbo lhe dizia que ele era incapaz, que ele não tinha qualidades suficientes para voar (habilidade que ele descobriu quando estava de porre alucinógeno).

Uma vez sóbrio, Dumbo sofria de inibição: seu Superego o fazia imaginar se estatelando no chão caso tentasse alçar voos. O mesmo que faz conosco.

Pois o ratinho lhe deu um truque: a “magic feather”. “Segura nessa peninha e ela vai te fazer voar!” O resto é história: depois de algum tempo, Dumbo conquistou terreno sobre seu Superego e pôde dispensar a pena mágica.

Ora, então o Superego dele estava dizendo uma besteira e ele acreditando nela. O uso da pena deu um drible nele, mas não questionou as besteiras que ele diz. Ele continuou ali dentro, poderoso, esperando a próxima ocasião de fazer valer suas besteiras.

Tenho a ambição de não ter que ficar driblando meu Superego. Quero ouvir dele as besteiras para poder questioná-las. Quero ele debatendo comigo!



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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

SOFRIMENTOS DO OBSESSIVO

 



Quem nasce com perfil obsessivo de funcionamento mental pode ser detectado desde cedo: são crianças que lidam com seus brinquedos de maneira arrumadinha, por exemplo.

A obsessividade traz muitas vantagens para quem a tem: as coisas são feitas de maneira caprichada, e são entregues a tempo. Não há desleixo. Por outro lado, a possibilidade de sofrimentos é grande.

Um obsessivo não deixa passar um quadro torto na parede, inclusive na casa dos outros ele precisa se conter para não acertá-los… e muitas vezes não consegue.

Um obsessivo tem horror de desperdício, ele segue a compaixão pelos famélicos da África e raspa o prato. Sua geladeira está cheia de tupperwares com restos de comida para… bem, para não desperdiçar.

Um obsessivo sofre com a “economia de palito”: seu tubo de pasta de dentes só vai para o lixo depois de ter sido aplainado até virar uma folha de papel (atenção: aplainado; nunca estrangulado). O final de um sabonete será colado ao novo (ou posto num pote para… bem, para não desperdiçar).

A pontualidade do obsessivo é outro tormento: “chegar pontualmente é chegar cinco minutos antes”, diz seu lema. Qualquer atraso é um insulto a quem se deixou esperando.

Outra agonia é a ansiedade: ela impõe que tudo seja antecipado e controlado para sair sem erro. Uma viagem de carro é mentalizada a cada quilômetro antes mesmo de se sair de casa.

Controle e pureza, são os dois eixos sobre os quais a obsessividade roda: pureza corporal e pureza de espírito. O pensamento binário “Cecilia Meireles” (“ou isso, ou aquilo”) do obsessivo não conhece “mais ou menos”: ou limpo, ou imundo; ou ama, ou odeia. Um obsessivo que defendia o ensaboamento da cabeça aos pés ficou atormentado quando eu perguntei se ele lavava completamente suas costas. No dia seguinte comprou um escovão de cabo longo.

Ou seja, quer conhecer um Superego 12 anos escocês legítimo? Esse é o Superego do obsessivo…





MAU HUMOR

 



A cara fechada, a expressão de poucos amigos, de “nem vem”, os grunhidos baixos e outras manifestações parecidas fazem o conjunto do que se chama de mau humor.

O mau humor emite sinais variados, o mais claro deles é de que há um drama em curso: ou a pessoa está sob uma situação dramática, ou ela mesma é quem produz o drama. No primeiro caso, ela está sofrendo; no segundo, ela está no controle, fazendo os outros sofrerem (mas também sofrendo do drama, pois ela o leva a sério).

Em termos psicanalíticos, o mau humor é sinal de que o Superego está imperando: ou o mal humorado está sob seu massacre, ou ele está assumindo o papel de Superego para massacrar os outros. Ou seja, sim, mau humor e mau sinal, é sinal de provável doença psíquica, pois a pessoa que dele sofre vai buscar algum alívio, dentro da equação “drama leva à dureza; o duro pede um Dreher”.

Tomando o Dreher como alívio vicioso (que pode ser alcoólico, como o próprio Dreher), abrem-se algumas possibilidades:

1. a pessoa está sofrendo de drama externo ocasional? O mau humor é novo e seu alívio será tão pontual quanto seu mau humor, logo, não há doença.

2. a pessoa está fazendo seu drama e já incorporou o mau humor como estilo próprio? As chances desse alívio vir de uma doença aumentam muito.

3. a doença mais comum ligada ao mau humor é o vício de sadomasoquismo não sexual, em que a pessoa encarna seu Superego para fazer sofrer os outros, para repassar seu sofrimento.

4. outro vício ligado ao mau humor é o sadomasoquismo do tipo fodão-merda, em que o mau humor é mais uma exibição de sua “temida superioridade fodona”, que chama a todos os atingidos de merdas.

5. seu mau humor vem dela mesma, mas não é costumeiro, não está presente há muito tempo? Há chances de haver depressão, tendo a irritabilidade como sintoma principal, o que é um dos principais problemas para o diagnóstico de depressão, pois a pessoa não parece derrubada, e sim ativamente irritada com tudo.

6. Há um curioso mau humor matinal do mimado, que está furioso de sair do sono e entrar no mundo que lhe cobra coisas, faz disso um tremendo drama… que pede Drehers variados, o mais comum entre os jovens será a maconha.

Enfim: em psicanálise, o mau humor é mau sinal a ser investigado, não pode passar como “ele é assim mesmo, deixa pra lá”. 





quarta-feira, 18 de setembro de 2024

ESTRANHOS APEGOS À DOENÇA: RESISTÊNCIAS AO TRATAMENTO

 


Resistência pelo Benefício secundário do sintoma (ou “ganho secundário do sintoma”):
O sintoma pode trazer algum tipo de vantagem para o paciente, como ganhar atenção, ou ter desculpa para evitar responsabilidades, o que dificulta a sua eliminação.

Há sintomas viciosos de comportamento que podem estar entranhados até no ganha-pão do cliente, como vícios de domínio e submissão, ou sadomasoquismo fodão merda.

Outro ganho secundário, ou benefício secundário, é que o vício pode ser parte do amparo da pessoa, seu consolo, ou mesmo seu grupo afetivo social, e largar o vício pode ser equivalente a perder o amparo.

Um caso típico é o do casal que convive com maltrato, em que o vício sadomasoquista core solto, mas é o que eles conhecem, a alternativa estaria na separação… e na falta de alternativas de amparo.

O mesmo se passa com os companheiros de bar, ou com os cúmplices do uso de drogas: interromper o vício supõe perder o amparo que lhes foi possível arranjar até ali.

(Ilustração criada por IA pelo Bing)